É necessário falarmos de política. Até porque essa crise política e econômica não vai se resolver sem muito diálogo e trabalho.
Alguns pontos primeiro:
não é só o Brasil em recessão. É todo o planeta. As pessoas estão putas da vida porque há muita desigualdade e o padrão de vida vem decaindo. O dinheiro vale cada vez menos pra todo mundo e a culpa disso é a concentração extrema de riqueza na mão de pouquíssimas pessoas.
Não tem dinheiro circulando na economia. Tá tudo parado em bancos ou sendo usado pra comprar poder.
E a falta de circulação de grana impacta todo o giro da Economia. E obviamente isso impacta em mercado de games, forçando ajustes de mercado. Como esses lembrados pelo OP.
Como a nossa capacidade de consumir está cada vez mais limitada, os preços vão ser repassados pro consumidor final. Jogo AAA a R$150 no lançamento?!? Nunca mais! Consequência lógica do capitalismo e das crises que oriundas desse Sistema.
Pelo lado bom da moeda, essa é a melhor época para ser gamer. Tem jogos excelentes pipocando a todo momento, jogos gratuitos com microtransações; serviços como o Games with Gold e o Game Pass... e por aí vai! Quem é gamer e se compromete a sustentar o hobby nunca teve tantos jogos pra jogar - algo possível pra qualquer cidadão decentemente empregado.
O mercado tá cheio de games. Pura e simplesmente. Então é possível ser gamer. É lógico que nem todo AAA vai estar ao alcance de todos, mas, admitamos, não precisamos de todos os jogos que estão por aí.
Sim. Eu concordo que é péssimo que atores importantes saiam do jogo, como o OP citou a Bethesda no Brasil. Mas é do jogo. A Bethesda vem colhendo resultados ruins de vendas porque não tem feito jogos atraentes para as grandes massas. Tudo o que não for The Elder Scrolls ou Fallout vende precariamente. Até a Nintendo voltou pra cá, com uma lojinha virtual e isso faz parte dos movimentos do mercado. Atores em melhores condições de competir, irão competir.
Mas isso é a economia das Grandes Empresas e a concorrência nesse caso nos afeta positivamente (a famigerada mão invisível).
O problema real que o OP aponta implicitamente é outro: a piora nas condições socioeconômicas do Brasileiro. Esse é o problema.
Todo mundo aqui nesse Foro é de Classe Média pra cima. Não é qualquer João-Ninguém que consegue gastar num Console de Última Geração. Isso é um luxo aqui nessas paragens.
O cara que em 2013 comprava um jogo por mês não consegue fazer a mesma coisa agora em 2018 e isso é uma merda. E não é só pra games, não. É pra tudo. No meu exemplo pessoal, eu me dei ao luxo de ir pra Punta del Este nas férias em 2015, jogar em Cassino e jantar em restaurante gourmet e todo o mais. Uma semana gastando e se divertindo. Road Trip mesmo. Esse ano, eu fui pra Tramandaí durante três dias e com chuva (uma experiencia deprimente perto da minha casa).
Nas próximas férias?!? Nem fodendo que eu vou viajar, porque sei que vou arrancar 2019 com pouca grana e tendo uma penca de boletos e impostos pra pagar.
Então... imagina pra quem está no ponto limítrofe com a pobreza! Aquele indivíduo que era capaz de consumir e agora está endividado e sem crédito. Imaginem!
Entendem?!? Temos que falar de nossos problemas e qualquer espaço pra debate deve ser usado pra discussão civil pra ver se essa bagaça toda melhora. Inclusive aqui, com todo o respeito.
Porque se a gente não tiver uma vida política e econômica mais previsível, mais calma, mais inclusiva socialmente, com um sistema com mais previsibilidade jurídica; a gente não vai conseguir ter competitividade produtiva e nem ter um mercado interno sadio, com dinheiro circulando.
As nossas escolhas políticas vão moldar o funcionamento da nossa sociedade dentro de um prazo bem curto. O que afeta tudo, inclusive o nosso consumo em supérfluos, como games - que é o objeto de discussão desse Foro.
Hoje, do jeito que estão as coisas, eu ainda consigo consumir games. Mas tem coisas que eu considero supérfluas que eu não consumo mais. Aquele produto importado de grande qualidade?!? Não compro mais, compro o similar nacional. Trocar os gadgets a cada hora não rola mais. Não saio todos os fins de semana, mais. Almoço em casa e faço a comida porque comer fora tá caro. Não penso mais em viajar. Sou mais comedido na hora de assumir despesas. E só faço despesas que são estritamente necessárias.
Gente: as pessoas não tão conseguindo pagar os boletos! Não tão conseguindo pagar aluguel! Imagina gastar com qualquer coisa que não seja comida ou remédios. O dinheiro não circula e eu não recebo dos meus clientes de maneira previsível. E isso é foda.
Em suma: sem trazer de volta aquele bando de gente que consumia - e que agora não consome mais - de volta pro mercado, fazendo elas melhorarem de vida; as coisas não vão dar certo aqui no Brasil.