Jogo é cultura? Nerdspot entrevista Moacyr Alves, presidente da ACIGAMES.

samvitor

Casual
Novembro 10, 2010
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Quem é gamer no Brasil e não conhece o Moacyr Alves e seu trabalho, certamente deveria desligar um pouco o console e procurar se informar mais um pouco. De uma forma resumida, basta dizer que, se você sempre reclamou do preço dos jogos em terras tupiniquins, ele é a pessoa que está fazendo algo para resolver o seu problema.

Um resumo um tanto injusto diga-se de passagem, dada a extensão de um trabalho que vai muito além da redução dos preços dos jogos no Brasil. Moacyr é presidente da ACIGAMES (Associação Comercial Industrial e Cultural dos jogos eletrônicos do Brasil), criada com a finalidade de representar e regulamentar a indústria e comércio dos jogos eletrônicos e incentivar culturalmente a área dos games no Brasil. A mesma ACIGAMES que é responsável pela famosa iniciativa do Jogo Justo - movimento que já mobilizou mais de 4 milhões de pessoas no país inteiro em prol da redução de carga tributária nos games (chamando uma considerável atenção do governo), além de iniciativas que visam aquecer a indústria e mercado de games no país de um modo geral. Pode-se dizer hoje, que graças a uma interferência positiva dentro do governo, feita pela ACIGAMES, (através de ações e pesquisas) temos hoje uma nova ótica lançada sobre o termo “jogos eletrônicos” – considerada antes com um certo desdém e infantilidade, por muitos parlamentares.


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Como se isso já não fosse pouco, Moacyr ainda é:

- Titular do conselho de Jogos Eletrônicos e digitais do Brasil no governo federal pela Secretaria do Audio Visual (Ministério da Cultura).

– Embaixador dos jogos eletrônicos entre Brasil e Espanha pela acadêmia de artes e ciências interativas da Espanha

– Embaixador dos jogos eletrônicos entre Brasil e Itália pela AIOMI (Associação Italiana de Multimidia Interativa)

– Curador da Campus Party na area de games.

Então sim. Se você é gamer e não conhece o Moacyr Alves, shame on you, dude.




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Mas porque eu estou falando sobre isso? A razão é que o Moacyr deu uma palestra no Gamepólitan 2013, em Salvador (no meio deste mês), onde não apenas anunciou a criação do primeiro Gamecluster da Bahia (que iremos falar em outro post), como ainda teve a gentileza de conceder uma entrevista exclusiva ao Nerdspot, onde conversamos sobre a inclusão (e exclusão) da categoria de jogos no Vale-Cultura, além da visão do país sobre esta categoria e novidades interessantíssimas sobre o Jogo Justo para 2013.

Para quem não desgruda de seu console nem mesmo para ler o que acontece no seu país, o Vale-Cultura é um benefício – sancionado por lei em Dezembro pela presidente – que prevê um auxílio de R$ 50,00, para que o trabalhador – que ganha até 5 salários mínimos – gaste em cinemas, teatros e na aquisição de livros, CDs e DVDs. A iniciativa promove que as pessoas consumam mais cultura no seu dia-a-dia, e estava sendo discutida a possibilidade de se enquadrar o consumo de jogos dentro desta esfera de atuação do projeto.

Discussão que foi encerrada de forma taxativa pela Ministra Marta Suplicy (é a do relaxa e goza) que vetou a entrada desta categoria, afirmando “Eu não acho que jogos digitais sejam cultura” e ainda concluindo a polêmica sobre o assunto – posteriormente – com um “nem pensar”.


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O gesto não passou despercebido pelo público gamer brasileiro, que imediatamente se mostrou enfurecido pelo descrédito da ministra ao jogos eletrônicos como forma de cultura. “Eu aprendi a ler inglês com meu Super Nintendo!”, diziam alguns, enquanto outros argumentavam se “50 Tons de Cinza” era um equivalente cultural digno o bastante para invalidar o potencial histórico de um “Assassin’s Creed”. A ACIGAMES inclusive enviou uma carta aberta à ministra, seguida por outras empresas da área (como a Ubisoft) e até um joguinho em flash foi promovido para lidar com a situação, mas até o momento a situação permanece a mesma. Games não farão parte do Vale-Cultura.

Perguntamos então ao Moacyr, presidente da ACIGAMES, um pouco sobre sua opinião particular sobre a situação:

N - Moacyr temos aqui uma polêmica que já está rolando já fazem algumas semanas, sobre a inclusão dos jogos no benefício do Vale-Cultura – um benefício de R$50,00 que poderia ser gasto de outras formas, incluindo aí os games. Tivemos a Ministra Martha Suplicy que refutou completamente essa questão. Você tem alguma opinião sobre essa postura que se tem hoje em dia no Brasil, sobre os games como forma de cultura? Você acha que é um pensamento que está mudando ou você acha que é uma barreira muito grande que temos?


M - “Olha eu posso dizer uma coisa para você: A barreira que a gente tem, é no governo. É um preconceito de pessoas que não tem conhecimento do que é um game de verdade. O que é que acontece com isso? Infelizmente é como sempre diz: O Brasil parece que entrou no modo Hard para a gente jogar. Entrou no modo Hard para a gente conseguir ganhar com o game. É difícil. (…) Depois que saírem todas essas questões que estão passando, pode ser sim que ela volte. É simples, a ministra tem um preconceito fortíssimo. Ela falou, e depois afirmou de novo “Nem pensar”.

O problema agora, pelo menos para mim, não é o Vale-Cultura. É simplesmente colocar o Game como cultura, porque ele é. Falar que ele é entretenimento e não cultura, não – protesto – isso não pode.

Tá, não quer colocar ele como cultura? Tudo bem, devem ter seus motivos, “acho que não.. vai criar polêmica e tal…” tá bom, a gente tem que olhar o outro lado da coisa também. Mas falar que jogo não é cultura, que é entretenimento aí está errado. Por que é o seguinte: Dança, o Teatro, Cinema “é entretenimento e não é cultura”? O game hoje em dia é fortíssimo! No mundo inteiro! (…) Todo mundo fala em game no mundo inteiro!

Ou você aprende a conviver com o game e fazer dele uma plataforma lucrativa com a visão para frente, ou isso aqui meu amigo… sinto muito, fica muito ruim. Não pode.”

N - Tivemos no ano passado, o movimento do Jogo Justo – uma das maiores plataformas de exposição da ACIGAMES, no ano passado para o público aberto. Existe algum plano para este ano? Você acha que o movimento vai ser mais forte ainda? Quais são os projetos da ACIGAMES em relação ao preço dos jogos para este ano?


M - “Olha, a gente mudou muito o foco. Porque assim, o que tinha que ser feito para preço, dentro do governo foi feito. Foram entregues 8 projetos e 2 deles passaram. Um deles o Plano Brasil Criativo e o outro o Plano Brasil Maior. Ponto final. Não. tem. mais. o. que. fazer. É esperar o plano acontecer. Vai acontecer. Eles prometeram em Fevereiro, não veio – Tô esperando mas vamos ver o que vai dar. Se demorar muito eu vou lá cobrar os caras. Semana passada eu estive em Brasília e eu fui na Secretaria da Receita Federal e me falaram “olha o prazo político parou um pouco, mas vai acontecer”. Aí a gente vai esperar isso.

Eu não vou mais, e eu acho que não há nem mais necessidade de um dia do jogo justo. Porque o dia do jogo justo foi para pegar informações para passar para o governo e mostrar a força do mercado. Isso já foi dito, o recado já dado muito bem obrigado. Só que o problema é que você lida com o cara preconceituoso: Você tem 15 que falam “Puta, como o jogo é legal, que bacana essa indústria” e você tem 15 que falam “puta, isso aqui é uma droga, porque é que eu vou fazer isso aqui?”. Então é muito simples. Precisa mais foco na questão de fazer projetos para eles poderem sair do papel. É onde eu estou focando.

A gente vai ter uma promoção – que infelizmente eu não posso falar – que é muito simples: “É promoção“. Quer comprar jogo barato? Vamos reunir aqui, quem quiser comprar compra, quem não quiser comprar não compra. Não é nada comunitário: eu quero vender e você quer comprar. Conseguimos um preço legal? É uma seção bacana? Pronto. Isso vai acontecer este ano.

Ah, e uma boa notícia! Conseguimos colocar os dedos no Black Friday oficialmente. No ano que vem, oficialmente games na Black Friday – isso já uma coisa legal.

Ok, todo mundo fala “po, BlackFriday no Brasil foi uma piada” Foi. Mas nada se começa perfeito. Tá os caras fizeram um monte de besteirada? Fizeram, mas para o ano que vem os caras vão melhorar. Essa é a tendência.”



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Nosso imenso obrigado ao Moacyr – que foi extremamente simpático com nossa equipe – pela entrevista. Realmente ainda existe uma barreira muito grande em nossa sociedade – que se espelha em nosso governo – em não considerar os jogos como uma forma de cultura. O que é estúpido, uma vez que o “jogo eletrônico” não é exatamente um conteúdo e sim um veículo para o conteúdo em sí. Com certeza existem jogos (como um Carmaggedon) que passam longe da esfera cultural, mas que não podem sozinhos representar a categoria, uma vez que são meras formas de uso de um veículo de informação.

Da mesma forma que um papel pode conter um rico poema ou desenho obsceno, um jogo eletrônico pode conter violência gratuita ou uma história educativa e relevante para a cultura local. Não se pode reduzir todo um meio riquíssimo de informação (interativa, inovadora e de alto impacto) a alguns exemplos pobres de seu uso.

Seria o mesmo que delimitar toda a literatura à “entretenimento pobre de conteúdo” por conta, por exemplo, da série Crepúsculo.

Ficamos felizes também em conhecer os projetos da ACIGAMES para este ano. A ausência de um “Dia do jogo justo” é perfeitamente justificável, uma vez que o evento realmente já cumpriu seu propósito em mostrar a força do mercado gamer no país. Os planos aprovados (Brasil Maior e Brasil Criativo) em sí, já prometem reduções tributárias importantes para os consumidores finais, além de benefícios para toda a indústria de desenvolvimento de jogos e revenda ao redor do país. Tudo agora repousa nos braços pesados e nas pernas lentas da nossa política, em fazer valer o aprovado.

Claro que o evento promocional que irá acontecer este ano, além da participação da Black Friday no ano que vem são um bônus muito bem vindo a todo o público gamer, mas o mais importante tem sido focado por Moacyr: “Fazer projetos e fazer eles saírem do papel“. Afinal, reduzir o preço dos jogos eventualmente só é bom… eventualmente. Conseguir mudar as regras do jogo, aquecer a indústria e movimentar o mercado é o que realmente vai causar uma diferença permanente em nosso país.


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Vale finalizar esta matéria com os nossos parabéns e admiração ao trabalho realizado pela ACIGAMES, que tem travado uma luta nos andares de cima de nosso governo, fazendo serem ouvidos os apelos de um público imenso e o potencial de um mercado poderosíssimo – ignorado por muito tempo pela política desse país. Somos um dos maiores mercados potenciais do planeta na área de games, e mesmo assim somos reconhecidos pelos nossos representantes como “entretenimento barato e infantil”, por puro preconceito e falta de informação. Nosso obrigado ao Moacyr e à ACIGAMES por estar conseguindo, com muita dificuldade, ampliar os horizontes daqueles que só pensam em torno do próprio umbigo.

Fonte: [link=[url="http://www.nerdspot.com.br/2013/games/jogo-e-cultura-nerdspot-entrevista-moacyr-alves-presidente-da-acigames/"]http://www.nerdspot.com.br/2013/games/jogo-e-cultura-nerdspot-entrevista-moacyr-alves-presidente-da-acigames/[/url]]Nerdspot[/link]
 

João_RS

Casual
Fevereiro 15, 2011
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Enquanto aprendi a falar inglês jogando videogame mais do que aprendi na escola, enquanto aprendi mais sobre história jogando Total War do que na escola, que inclusive esses políticos corruptos fazem questão de enfiar o dinheiro público no cu ou sei lá aonde ao invés de investir em educação, a sra Marta Suplicy está basicamente dando um vale cultura de 50 reais para que as pessoas comprem, por exemplo, cd's de funk.Como o Cauê Moura disse, imagina se as "mina" fizessem como nas letras de funk?Iriam estar todas grávidas, ou com aids, enfim.
Brasil é foda, viu.
 

samvitor

Casual
Novembro 10, 2010
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O mais absurdo foi a falta de diálogo dela. "Nem pensar". Ou seja, usou de um preconceito sem base alguma, para julgar um assunto que afeta outras pessoas.

Como uma representante do povo, isso é de uma estupidez sem tamanho. Um verdadeiro abuso de autoridade.
 

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